Obesidade, Resistência à Insulina e Diabetes Melito
Obesidade, Resistência à Insulina e Diabetes Melito.
Combatendo as doenças em sua origem.
Sumário
A Insulina e o Glucagon estão entre os principais hormônios
reguladores do nosso metabolismo. A palavra Insulina pode
suscitar em nós uma imediata relação mental entre Insulina e
Diabetes Melito, e esta é uma associação absolutamente válida,
especialmente em nossos dias.
Controlar os níveis de glicose sanguínea é a função principal da
Insulina e do Glucagon. Sendo esses mecanismos completamente
autônomos (não possuímos influência mental sobre eles), o que
podemos fazer em relação às disfunções relacionadas ao papel da
Insulina e do Glucagon? O primeiro passo é compreender o básico
desses processos
Muitas pessoas, no mundo inteiro, com enfoque para as portadoras
de doenças cardíacas, diabetes II (ou Diabetes mellitus do tipo
II), hipertensão arterial, hiperlipidemia (elevação do
colesterol e dos triglicerídeos no sangue), e muitos obesos,
possuem, muitas delas, uma disfunção nos receptores de insulina.
Essa disfunção é frequentemente herdada e piora com a idade, com
o estresse, ou ainda na presença de diversas outras doenças.
Também após anos de consumo continuado de Sacarose (Açúcar
Branco) e Amido, para quem possui esta tendência familiar de
disfunção nos receptores de insulina, a situação tende a piorar.
São duas as principais condições médicas associadas a esta
disfunção nos receptores de insulina: A Resistência à Insulina e
o Diabetes Melito do tipo II.
Na medida em que os receptores de insulina vão se tornando
disfuncionais, a resistência à insulina vai se instalando
progressivamente. Por se tratar de uma necessidade vital
transportar a Glicose para dentro das células, e removê-la da
corrente sanguínea, o pâncreas tenderá a produzir cada vez mais
insulina, buscando a resposta desses receptores. Desta forma,
inicia-se um ciclo vicioso que requer cada vez mais insulina
para manter o sistema ativo. Chega um momento, entretanto, em
que determinadas pessoas se tornam tão resistentes à insulina
que a quantidade requerida desse hormônio para manter esse
sistema responsivo já é mais do que o indivíduo consegue
produzir; então a pessoa se torna diabética. O Diabetes Melito é
a resistência aos receptores de insulina acompanhada de uma
insuficiência na produção do hormônio. Na Resistência à Insulina
nem sempre ocorre a insuficiência da produção de insulina pelo
pâncreas, mas a disfunção desses receptores é marcante. Em ambas
as doenças, a insulina é sempre, e cada vez mais, requerida.
O excesso de insulina que ocorre na Resistência à Insulina
estimula uma grande variedade de outros processos metabólicos:
Estimula a retenção de sal (cloreto de sódio) pelos rins;
estimula a produção de gorduras no fígado; aumenta a quantidade
dos triglicerídeos; diminui a elasticidade da porção muscular
das paredes arteriais; aumenta o risco de hipertensão arterial;
e envia mensagens para as células de gordura (adipócitos) para
que armazenem cada vez mais gordura.
A Obesidade é uma condição frequente na Resistência à Insulina,
havendo falta de consenso entre os pesquisadores se é a
Obesidade que conduz à Resistência à Insulina, ou se é a
Resistência à Insulina que conduz à Obesidade. De qualquer modo,
ao se combater a Resistência à Insulina, combate-se a Obesidade,
porém não se pode afirmar com plena certeza se o combate à
Obesidade isoladamente resultará na cessação dos processos
associados à Resistência à Insulina. Diversos fatores colaboram
para esses questionamentos, dentre eles está o elevado número de
indivíduos resistentes à insulina que não são e nunca foram
obesos. Por outro lado, há muitos indivíduos obesos que não se
tornam resistentes à insulina, e nem diabéticos, e isso até o
fim de suas vidas, alguns deles fartamente longevos.
As ações da insulina são contrabalanceadas por outro hormônio
diretamente envolvido em nosso metabolismo, o Glucagon, ambos
produzidos pelo nosso pâncreas. Dentre outras ações, o glucagon
aumenta os níveis de glicose no sangue e promove a liberação de
gorduras estocadas para serem utilizadas como combustível
energético através do nosso sangue. Contudo, quando os níveis de
insulina sanguínea estão desregulados pela resistência à
insulina, essa disfunção pode suprimir a adequada ação do
glucagon.
Uma vez que são os alimentos que solicitam ao pâncreas a
produção destes dois hormônios, insulina e glucagon (pelas
células beta e alfa das ilhotas de Langerhans do pâncreas,
respectivamente), é importante, para obesos e resistentes à
insulina, que seja elaborada uma estrutura alimentar que
maximize a liberação de glucagon e minimize a liberação de
insulina, restabelecendo, dentro do possível, o equilíbrio
natural entre estes dois hormônios pancreáticos.
Nessas condições, as ações do glucagon se tornarão mais ativas
facilitando e promovendo o restabelecimento da sensibilidade dos
receptores de insulina. Uma vez que este processo seja atingido,
e mantido, diversos problemas relacionados à resistência à
insulina tendem a regredir, ou mesmo a cessar. Se elevados, os
níveis sanguíneos de colesterol e de triglicerídeos tendem a
baixar e a queima da gordura estocada leva à perda de peso.
Notemos, contudo, que aqui o foco da ação pretendida não é sobre
a obesidade, primariamente, mas sobre a resistência à insulina.
Quando a nova estrutura alimentar que maximiza a liberação de
glucagon e minimiza a liberação de insulina é atingida, a
obesidade tende, naturalmente, a diminuir. Isto ocorre não por
um pretendido déficit calórico primário, mas sim pelo
restabelecimento gradual dos níveis adequados de insulina e pela
diminuição da resistência dos seus receptores.
Sacarose e Amido, frequentemente um
problema na Resistência à Insulina
Nota: Gostaríamos muito de poder utilizar estatísticas
brasileiras para a maior parte dos nossos artigos, todavia, esta
não é uma tarefa fácil. Se comparadas às estatísticas produzidas
por países como os Estados Unidos da América, Austrália, Nova
Zelândia e alguns países europeus, por exemplo, as estatísticas
fornecidas pelo Ministério da Saúde do Brasil são muito
precárias. Nesse órgão governamental brasileiro, muitas
estatísticas parecem contemplar apenas aquilo o que circunda o
que chamam de “políticas de saúde”, deixando um enorme vácuo
científico que não é preenchido. Dito isto, fica aqui
esclarecido o porquê de lançarmos mão de estatísticas produzidas
em outras nações.
A Resistência à Insulina. Uma Epidemia
que só cresce
Em uma variedade de estatísticas sobre a Insulino-Resistência,
estima-se que cerca de uma em cada quatro pessoas, ou 25%, entre
os norte-americanos são resistentes à insulina. Segundo o
National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases
(Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais)
dos Estados Unidos, cerca de 3 em cada quatro americanos estão
obesos. E aqui, novamente, surge a questão: A Obesidade é a
causa da Resistência à Insulina, ou é o contrário? Isto é
importante porque existe uma miríade de tratamentos para a
obesidade que são completamente ineficazes para tratar a
Resistência à Insulina.
Tratamentos anti-obesidade que contemplam o estabelecimento de
um simples déficit calórico associado a exercícios físicos podem
não estar abordando alguns fatores-chave para a redução da
Insulino-Resistência.
Embora este assunto seja bastante extenso, focarei a atenção
sobre o excesso de solicitação ao pâncreas para que este produza
insulina, ou seja, sobre a sobrecarga pancreática. Sendo a
Resistência à Insulina uma doença multifatorial e diretamente
associada à alimentação, começaremos por esta última.
A Sacarose (Açúcar Branco, Açúcar de
Confeiteiro, Açúcar Mascavo)
A Sacarose é uma molécula formada por Glicose e Frutose,
extraída da Cana de Açúcar (Brasil) e da Beterraba (Europa) e
que, depois de ingerida e metabolizada, rapidamente eleva os
níveis da glicose sanguínea (Glicemia). Uma vez elevados os
níveis da glicemia, o organismo intervém a fim de remover a
glicose do sangue e utilizá-la como combustível energético. Esta
tarefa é mediada pelo pâncreas com a produção de insulina. Caso
haja mais glicose do que o necessário para realizar o trabalho
energético, o corpo armazena a glicose excedente na forma de
glicogênio no fígado e nos músculos e também em forma de gordura
corporal. Todo este processo é mediado pela insulina. Ou seja,
quanto mais sacarose houver na dieta, mais glicose haverá na
corrente sanguínea, e mais e mais insulina será necessária para
manter este processo ativo. Quanto mais açúcar se consome, seja
açúcar branco, mascavo, de confeiteiro, etc..., mais insulina é
liberada na corrente sanguínea, e isso aumenta a quantidade de
gordura armazenada no corpo, a qual vai se excedendo (Obesidade
e Gordura localizada).
A ingestão continuada do açúcar branco (sacarose) vai
progressivamente alterando o funcionamento de glândulas
endócrinas: pâncreas, supra-renais, hipófise e fígado (este
órgão possui muitas outras funções). Isto é particularmente mais
exuberante nos indivíduos que já possuem uma propensão
hereditária para desenvolver a resistência à insulina.
Solicitado pela hiperinsulinemia, o sistema glandular endócrino,
com o tempo, entra em progressiva disfunção, e o pâncreas começa
a perder a sintonia fina que existe entre os níveis de glicose
(Glicemia), as quantidades de insulina produzidas, e o glucagon.
O abuso de oferta de insulina faz com que, com o tempo, o
individuo comece a experimentar a perda da eficácia da ação da
insulina (Resistência a Insulina e Diabetes Melito).
Outros problemas de saúde relacionados
à Sacarose
Dentre outros problemas, o uso contínuo de Sacarose (Açúcar
branco) pode: Causar significativo aumento nos Triglicerídeos;
elevar a Glicemia de jejum; causar Cáries Dentárias e Doença
Periodontal; contribuir para a formação de Esteatose Hepática;
causar Catarata; danificar o Pâncreas e os Rins; promover ganho
excessivo de peso; causar Adições (vícios alimentares) e ainda
influir negativamente na estabilidade do Humor. ¹
A despeito de tudo isto, no Brasil, por autorização da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a adição de açúcar
(Sacarose) pelas indústrias está permitida em uma quantidade
impressionante, e inacreditável, de alimentos. Alguns deles são:
Pães (diversos), salames, salsichas, purês de batata
instantâneos, linguiças, biscoitos, presuntos, apresuntados,
temperos, ketchups, mostardas, peito de peru e de frango
fatiados, lasanhas, hambúrgeres, produtos de lombo, molhos,
caldos de carne, refrigerantes, sorvetes, bolos, iogurtes,
cereais matinais, chocolates, steak de frango, conservas, sucos
de frutas, achocolatados, salgadinhos empacotados, amendoins,
barras de cereais, sopas, sardinhas em lata, maioneses, e a
lista é bem, bem longa. Também por determinação da ANVISA, a
Sacarose é estampada nos rótulos dos alimentos sob o nome de
"Açúcar".
Esta aberrante adição de açúcar em tantos alimentos que são
vendidos Brasil afora deve ser motivo de muito cuidado por parte
do consumidor quando vai às compras. Recomendo observar
atentamente os ingredientes de cada produto industrializado
antes de comprá-lo. Em algumas embalagens, as letras são quase
microscópicas. Portanto, se você usa óculos, não vá aos
supermercados sem eles. E, se for necessário, leve também
consigo uma boa lupa. Mas não deixe de examinar o conteúdo
(ingredientes) dos alimentos que você compra.
A Sacarose (o açúcar branco) é o inimigo número um de quem
possui Diabetes Mellitus, Resistência à Insulina, Obesidade e
Cáries dentárias.
O Amido
No que diz respeito ao metabolismo humano, de modo bastante
semelhante ao que ocorre com a Sacarose, o aumento da
solicitação ao pâncreas para que produza muita insulina
(hiperinsulinemia) se dá também na presença de Amido,
principalmente nos produtos processados e industrializados.
Assim como o nosso organismo possui um carboidrato de reserva (o
Glicogênio), os vegetais também o possuem (o Amido). O amido é,
portanto, a reserva energética estocada em alimentos como o
Trigo, o Arroz, o Milho e a Batata, para citar alguns.
Ocorre, porém, que em sua forma natural (integral) o amido não é
nem concentrado e nem livre, mas se encontra associado à
composição estrutural completa dos vegetais que o contém, ou
seja, no arroz integral, nos grãos do milho, no trigo integral e
nos grãos de aveia integral.
Quando processados, os grãos desses cereais (gramíneas) são
refinados e industrializados na forma de farinha de trigo, amido
de milho, arroz branco, etc. O amido de milho e a farinha de
trigo são elementos presentes na fabricação de diversos
alimentos, tais como: biscoitos, cereais matinais, pão,
macarrão, bolos, mingaus e outros.
Assim como acontece com a Sacarose (açúcar-branco), ao ser
ingerido e metabolizado, o amido é convertido em glicose, e todo
o processo acima descrito em relação à Sacarose também ocorre
com o Amido processado (industrializado), elevando rapidamente
os níveis sanguíneos de glicose (Glicemia) e solicitando ao
pâncreas que produza bastante insulina (hiperinsulinogênese).
A Importância do Índice Glicêmico dos
Alimentos
A fim de prevenir e tratar a Resistência à Insulina, o Diabetes
Melito e a Obesidade, é imprescindível que se conheça os índices
glicêmicos dos principais alimentos que suscitam muita produção
de insulina pelo pâncreas.
A velocidade de entrada dos carboidratos na corrente sanguínea
não é a mesma para todos os alimentos desta categoria. Quanto
mais rápido esses alimentos entram no sangue, mais rapidamente
elevarão os níveis de Glicemia. Sabendo-se isto, classificam-se
os alimentos tendo por critério a resposta insulínica. Isto se
chama: Índice Glicêmico dos Alimentos.
Importante relembrar que o organismo não pode permitir que a
glicemia se mantenha elevada na corrente sanguínea, pois isto
pode trazer diversas consequências nefastas para diversos órgãos
e sistemas: Microcirculação, sistema renal, olhos, cicatrização,
coração, panículo adiposo, dentre outros.
São basicamente dois os referencias utilizados na classificação
do Índice Glicêmico dos Alimentos: O pão branco – Índice
Glicêmico = 100; e a Glicose – Índice Glicêmico = 100. Quanto
maior o IG dos alimentos, mais estes afetarão a resposta
insulínica.
Existem várias tabelas do Índice Glicêmico dos Alimentos, por
isso não reproduzirei nenhuma delas neste artigo. Basta o leitor
pesquisar na Internet. Citarei apenas alguns exemplos. Os dados
aqui apresentados são da Escola Médica da Universidade de
Harvard, nos Estados Unidos, e possuem como referência o Índice
Glicêmico da Glicose = 100.
Alimentos índice glicêmico IG > 70: alto; IG 55-70: moderado;
IG <55: baixo
Alimentos com Alto IG em relação à
Glicose = 100
Arroz Branco - IG = 89
Cornflakes™ - IG = 93
Purê de Batata - IG = 87
Waffles - IG = 76
Pão Baguete - IG = 95
Melão - IG = 72
Alimentos com Médio IG em relação à
Glicose = 100
Banana - IG = 62
Spaghetti - IG = 58
Pipoca - IG = 55
Inhame - IG = 54
Alimentos com Baixo IG em relação à
Glicose = 100
Maçã - IG = 39
Laranja - IG = 40
Lentilhas - IG = 29
Ervilhas - IG = 51
Como já dito acima, Obesidade, Resistência à Insulina e Diabetes
Melito são tópicos complexos e que precisam ser bem avaliados e
tratados de forma adequada. Caso necessite, converse com um
especialista.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo
¹ Referências:
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