Burnout em Professores
Professores Cansados e Exaustos – O Estresse do Professor
As historicamente péssimas condições de trabalho
a que são submetidos os professores e as professoras no Brasil
tem levado muitos desses profissionais a não somente terem de se
submeter a salários aviltantes, mas também a diversos problemas
de saúde, incluindo transtornos psiquiátricos diversos.
Não são poucos os que nos procuram em nosso consultório
queixando-se de exaustão física, irritabilidade, insônia,
dificuldade de concentração, fobias, perda de interesse pelo
trabalho, pressões de suas chefias, baixa auto-estima, além de
múltiplos prejuízos psicossociais e familiares.
Cada vez mais pessoas tem sofrido com o Estresse
Profissional, especialmente aquelas que se interrelacionam com
outras pessoas para o desempenho de suas funções. Um bom exemplo
disso é o professor, que tem sido apontado como uma das maiores
vítimas do estresse profissional severo, mais conhecido como
Síndrome de Burnout.
A Síndrome de Burnout é causada por circunstâncias relativas às
atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos,
comprometimentos comportamentais, afetivos e cognitivos.
Inicialmente foi observada em trabalhadores da área da saúde que
desempenham uma função assistencial, caracterizada por um estado
de atenção intenso e prolongado com pessoas em situação de
necessidade e dependência. Com o passar do tempo, pôde ser
identificada em outras profissões, entre elas a de professor.
A razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à
falta de reconhecimento. A desvalorização do professor, seja ela
por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um
dos maiores agentes para a ocorrência da Síndrome de Burnout em
professores, não somente da rede pública, mas também da rede
privada.
A Síndrome de Burnout em professores pode ser caracterizada por
um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do
ambiente acadêmico e suas problemáticas diversas, especialmente
aquelas que não dependem apenas da ação dos docentes para serem
resolvidas. Existem problemas que estão muito além da ação
direta dos professores, principalmente onde há uma situação de
degradação do sistema. Nestes casos, a sensação de impotência
pode ser mais acentuada.
Além disso, o posicionamento dos alunos em sala
de aula também contribui para um maior desgaste. Em muitos
casos, a indisciplina é a grande responsável por uma eventual
sensação de frustração e até a desmotivação do profissional. Não
são incomuns os professores que se queixam da falta de interesse
dos alunos e assumem a culpa por este fato acreditando que
deveriam dominar as mais diferentes técnicas para estimular o
aprendizado.
A situação de maior estresse para o professor continua sendo a
indisciplina em sala de aula. Mediar a relação com os alunos é
algo mais desgastante em situações em que o professor tem de
chamar a atenção, interromper a aula, pensar sempre como motivar
os alunos, erguer o tom de voz. Tudo isso contribui ao longo do
tempo - podem ser em meses - para uma situação de estresse e
desmotivação. Isso porque o foco é sempre motivar os alunos. A
cobrança interna pode também ser bem maior, e uma sensação de
fracasso quando os resultados esperados não são atingidos, ou
seja, quando o curso não corre bem, por conta de uma "interação
em sala de aula mal resolvida".
É importante destacar que os alunos também desempenham um papel
de extrema importância no aprendizado, sejam estes de ensino
fundamental, médio ou superior. Neste último caso, embora ainda
em menor escala do que no ambiente escolar, tem sido frequente a
incidência de casos de Burnout - ainda que os professores não
possam ser considerados os únicos responsáveis pelo desempenho
de uma turma ou de determinados alunos.
O peso do Burnout
O fato mais curioso na Síndrome de Burnout é que
ela pode atingir trabalhadores motivados, e que reagem a este
desequilíbrio trabalhando ainda mais. O tema central deste
sofrimento é a discrepância entre o que o trabalhador investe no
trabalho e aquilo que ele recebe, ou seja, os resultados
obtidos. Por isso, voltamos à questão do não reconhecimento e
desvalorização do professor.
O modelo de progressão da Síndrome de Burnout é composto pelas
seguintes etapas: Fase de idealismo e entusiasmo, com
expectativas excessivas a respeito do trabalho; fase de
progressivo estancamento e queda a respeito das expectativas
iniciais; decepção e frustração e, por fim, a fase de apatia, ou
seja, atitudes negativas frente ao trabalho.
É importante estar atento a esta Síndrome, porque além do
esgotamento psíquico e afetivo (emocional), despersonalização
dos profissionais e disfunções no desempenho profissional, a
Síndrome de Burnout em professores pode causar ainda
complicações de saúde decorrentes do estresse crônico e
deterioração da qualidade de vida.
Destaca-se aqui a importância de se buscar treinar e desenvolver
as habilidades de auto-controle, identificação de pensamentos
negativos, controle do estresse, utilização de apoio social com
a equipe, além de trabalhar a informação sobre os aspectos de
sua carência como profissional. Estas seriam algumas das
alternativas para combater o estresse profissional na busca pelo
bem estar e melhor qualidade de vida.
Finalizando, a Síndrome descrita por Herbert J. Freudenberger, significa exatamente isto: um estado de exaustão extrema, insuportável, e que, em muitas das vezes não é imediatamente perceptível. Mas que conduz a significativas alterações do humor, ansiedade, má nutrição, sensação de impotência, e até de desespero, diante de uma situação de solicitação profissional insuportável.
Há casos onde pode haver, como consequência da instalação da Síndrome, franca incapacitação para o trabalho.
*Créditos para: Vasques-Menezes, Iône, Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB.
Dr Eduardo Adnet
Médico Psiquiatra e Nutrólogo