Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

Burnout em Professores

 

Professores Cansados e Exaustos – O Estresse do Professor

As historicamente péssimas condições de trabalho a que são submetidos os professores e as professoras no Brasil tem levado muitos desses profissionais a não somente terem de se submeter a salários aviltantes, mas também a diversos problemas de saúde, incluindo transtornos psiquiátricos diversos.


Não são poucos os que nos procuram em nosso consultório queixando-se de exaustão física, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, fobias, perda de interesse pelo trabalho, pressões de suas chefias, baixa auto-estima, além de múltiplos prejuízos psicossociais e familiares.


A Síndrome de Burnout é uma das causas do esgotamento profissional de docentes


Cada vez mais pessoas tem sofrido com o Estresse Profissional, especialmente aquelas que se interrelacionam com outras pessoas para o desempenho de suas funções. Um bom exemplo disso é o professor, que tem sido apontado como uma das maiores vítimas do estresse profissional severo, mais conhecido como Síndrome de Burnout.
A Síndrome de Burnout é causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais, ocasionando sintomas físicos, comprometimentos comportamentais, afetivos e cognitivos.

 

Inicialmente foi observada em trabalhadores da área da saúde que desempenham uma função assistencial, caracterizada por um estado de atenção intenso e prolongado com pessoas em situação de necessidade e dependência. Com o passar do tempo, pôde ser identificada em outras profissões, entre elas a de professor.
A razão para a incidência da síndrome está ligada, sobretudo, à falta de reconhecimento. A desvalorização do professor, seja ela por parte do sistema, dos alunos e da própria sociedade, é um dos maiores agentes para a ocorrência da Síndrome de Burnout em professores, não somente da rede pública, mas também da rede privada.


A Síndrome de Burnout em professores pode ser caracterizada por um estresse crônico produzido pelo contato com as demandas do ambiente acadêmico e suas problemáticas diversas, especialmente aquelas que não dependem apenas da ação dos docentes para serem resolvidas. Existem problemas que estão muito além da ação direta dos professores, principalmente onde há uma situação de degradação do sistema. Nestes casos, a sensação de impotência pode ser mais acentuada.


Além disso, o posicionamento dos alunos em sala de aula também contribui para um maior desgaste. Em muitos casos, a indisciplina é a grande responsável por uma eventual sensação de frustração e até a desmotivação do profissional. Não são incomuns os professores que se queixam da falta de interesse dos alunos e assumem a culpa por este fato acreditando que deveriam dominar as mais diferentes técnicas para estimular o aprendizado.


A situação de maior estresse para o professor continua sendo a indisciplina em sala de aula. Mediar a relação com os alunos é algo mais desgastante em situações em que o professor tem de chamar a atenção, interromper a aula, pensar sempre como motivar os alunos, erguer o tom de voz. Tudo isso contribui ao longo do tempo - podem ser em meses - para uma situação de estresse e desmotivação. Isso porque o foco é sempre motivar os alunos. A cobrança interna pode também ser bem maior, e uma sensação de fracasso quando os resultados esperados não são atingidos, ou seja, quando o curso não corre bem, por conta de uma "interação em sala de aula mal resolvida".


É importante destacar que os alunos também desempenham um papel de extrema importância no aprendizado, sejam estes de ensino fundamental, médio ou superior. Neste último caso, embora ainda em menor escala do que no ambiente escolar, tem sido frequente a incidência de casos de Burnout - ainda que os professores não possam ser considerados os únicos responsáveis pelo desempenho de uma turma ou de determinados alunos.


O peso do Burnout


O fato mais curioso na Síndrome de Burnout é que ela pode atingir trabalhadores motivados, e que reagem a este desequilíbrio trabalhando ainda mais. O tema central deste sofrimento é a discrepância entre o que o trabalhador investe no trabalho e aquilo que ele recebe, ou seja, os resultados obtidos. Por isso, voltamos à questão do não reconhecimento e desvalorização do professor.
O modelo de progressão da Síndrome de Burnout é composto pelas seguintes etapas: Fase de idealismo e entusiasmo, com expectativas excessivas a respeito do trabalho; fase de progressivo estancamento e queda a respeito das expectativas iniciais; decepção e frustração e, por fim, a fase de apatia, ou seja, atitudes negativas frente ao trabalho.


É importante estar atento a esta Síndrome, porque além do esgotamento psíquico e afetivo (emocional), despersonalização dos profissionais e disfunções no desempenho profissional, a Síndrome de Burnout em professores pode causar ainda complicações de saúde decorrentes do estresse crônico e deterioração da qualidade de vida.


Destaca-se aqui a importância de se buscar treinar e desenvolver as habilidades de auto-controle, identificação de pensamentos negativos, controle do estresse, utilização de apoio social com a equipe, além de trabalhar a informação sobre os aspectos de sua carência como profissional. Estas seriam algumas das alternativas para combater o estresse profissional na busca pelo bem estar e melhor qualidade de vida.

 

Finalizando, a Síndrome descrita por Herbert J. Freudenberger, significa exatamente isto: um estado de exaustão extrema, insuportável, e que, em muitas das vezes não é imediatamente perceptível. Mas que conduz a significativas alterações do humor, ansiedade, má nutrição, sensação de impotência, e até de desespero, diante de uma situação de solicitação profissional insuportável.

 

Há casos onde pode haver, como consequência da instalação da Síndrome, franca incapacitação para o trabalho.

 

*Créditos para: Vasques-Menezes, Iône, Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB.

 

Dr Eduardo Adnet

Médico Psiquiatra e Nutrólogo